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Insigths: Cartomancia e a tigela de cerejas
     Ao analisar vídeos e conteúdos sobre cartomancia há, quase sempre, a presença  do enredo “Aprenda como se joga o Lenormamd” e , assim como predito, o conteúdo não foge a temática anunciada: vê-se uma receita pronta descrita detalhadamente que aponta os passos que se deve seguir para aprender a leitura e interpretação das cartas. Não deixa de ser uma “forma”  de aprender, embora em minha perspectiva docente , esta metodologia enquadre-se  mais numa “fôrma de aprendizagem”.
       Teorias e pesquisas apontam para a pluralidade de maneiras dos indivíduos aprenderem . Há pessoas, por exemplo , que interagem com o conhecimento a partir do geral para o particular; outras,  das partes para o todo; outras,  aprendem a partir de estímulos visuais, outras de maneira auditiva e há ainda aquelas que aprendem fazendo. Neste sentido, tratar as pessoas como se fossem iguais, sem conhecimento prévio, me parece um desrespeito à diversidade. Lembro -me bem da cena de um filme americano retratando os anos 50/60, em que a professora branca, divide sua classe baseada na cor da pele dos alunos e estabelece relações com o conteúdo de forma a atender a valores de uma classe hegemônica . Num momento da aula, por exemplo, ela faz a analogia da vida com uma tijela de cerejas ( fruta igual em características , acessível apenas a uma determinada classe social). Em relação ao métodologia aplicada ao ensino da  cartomancia, vejo que este se iguala  a comparação da vida a  uma tigela de cerejas, tecida pela tal professora. Geralmente o conhecimento deste sistema é abordado de forma igual para todos , compartimentado e  sem reflexão. Parte-se do simples para o complexo, em etapas crescentes, sucessivas  e estanques. Primeiro, deve-se aprender a teoria, depois a identificar os simbolismos e elementos presentes nas  cartas e somente depois,  conhecer os  métodos  de leitura ( primeiro com duas cartas , com três cartas e assim por diante) . Não há dúvidas que haverá aprendizagem a  partir deste modo de ensino e aprendizagem. No entanto, penso que o entendimento desta ferramenta vai muito além de decorar as partes do Lenormand e aplicar os conceitos e métodos de forma crescente.        É preciso haver compreensão profunda deste sistema, e isso requer fazer muitas relações com outras áreas do conhecimento , especialmente com os aspectos histórico -culturais. Minha problematização em relação a abordagem tradicional de ensino do Lemormand - também cabe a outros tipos de sistemas oraculares, como o baralho espanhol ou o tarô - recai sobre a a deficiente formação do profissional  de cartomancia, que , em geral , passa somente a repitir aquilo que lhe foi ensinado , de forma fragmentada, sem reflexão e sem visão relacional/ holística. Acredito que é necessário, essencialmente, que o aprendiz desenvolva  o autoconhecimento , a fim de que possa identificar seu estilo de aprendizagem,  bem como, receber do formador , ferramentas que o ajudem a desenvolver seu próprio método de leitura e trabalho, baseado em suas necessidades, interesses e habilidades. A vida é um pomar cheio de frutas coloridas , de  várias formas e tamanhos….      
       A cartomancia precisa aprender a ser plural num mundo em que não há mais espaço para a proselitismo .


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Como referenciar este texto/ ideias: 
S.Y.Z, CONCEIÇÃO. Ensaios Cartomânticos: Cartomancia e a tigela de cerejas Disponível em:  https://www.saradevi.com.br/atendimento/cartomancia-e-a-tigela-de-cerejas. Acesso em : 05/03/2024.